Planeta dos Macacos: A Guerra | Crítica | War for the Planet of the Apes, 2017, EUA

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No fechar das cortinas Planeta dos Macacos: A Guerra encontra a sua merecida maturidade.

Elenco: Andy Serkis, Woody Harrelson, Steve Zahn, Amiah Miller, Toby Kebbell | Roteiro: Mark Bomback, Matt Reeves | Baseado em: Planeta dos Macacos (Pierre Boulle) | Direção: Matt Reeves (Planeta dos Macacos: O Confronto) | Duração: 140 minutos | 3D: Relevante

Planeta dos Macacos sempre foi uma grande metáfora, seja no livro de Pierre Boulle, a versão de 1968 ou reboot de 2011. E Planeta dos Macacos: A Guerra entra no rol das trilogias não devem ser separadas para ser degustada. Tirando a roupagem da ficção científica e analisando com mais atenção, esse é mais uma história que tenta explicar a razão do ódio contra uma raça inteira, sendo que esses alvos nunca foram responsáveis ou culpados de nada – esse peso recaí nos ombros do outro lado. Sem receio de fechar a história de maneira messiânica, a nova produção de Matt Reeves é a mais séria e madura dos três filmes ao mostrar os horrores da guerra e como ela muda as pessoas.

Como qualquer feito de guerra feito depois de 1979, comparações são inevitáveis. Então é normal comparar a cena inicial onde soldados humanos usando capacetes com gritos de guerra avançando pela floresta contra a cidade dos macacos liderados por Cesar (Serkis) com Apocalipse Now (1979, Francis Ford Coppola), por exemplo. Reeves mostra esses soldados de costas e com alguns símios traidores que servem de carga, chamados pejorativamente de “jumentos” – para questão de Brasil, pense na figura do Capitão do Mato.  Numa óbvia disparidade, onde os primatas se defendem basicamente com lanças e bombas de fumaça é que o roteiro mostra a força do ódio dos humanos que nem mesmo sabem contra o que estariam lutando – já que fica claro que a extinção dos símios não significa a salvação da humanidade.

E nos primeiros vinte minutos acontece muita coisa e felizmente não é como se Reeves espremesse muito da narrativa por causa do tempo. O que acontece é que o estado de guerra deixar Cesar em os outros em estado de constante atenção. E mesmo com grandes perdas não há tempo para se guardar luto ou descansar. Então eventos vão se justapondo uns aos outros porque é preciso salvar uma raça inteira da grande tragédia que é essa guerra. Aqui começa a jornada para uma terra prometida, algo que Cesar e seus companheiros procuram desde o final do filme de 2011. E esse não será o único paralelo religioso que Reeves e Bomback exploram no filme.

Durante a jornada pessoal de Cesar, onde três companheiros o seguem mesmo contra a vontade do líder, Reeves sutilmente usa o cenário e o movimento de câmera para mostrar que as coisas estão piorando e que a jorna é muito longa. Pois o caminho desses mosqueteiros símios começa num lugar verdejante e cheio de vida, passa para a secura do marrom e, eventualmente, o frio da neve. E sem deixar de mostrar como a Guerra pune os mais inocentes, Reeves e Bomback colocam a jovem Nova (Miller) – uma das homenagens aos filmes dos anos 1960 – como figura central dessa faceta. Ela não é apenas inocente por ser uma criança, mas por um motivo mais profundo, algo que faz com que a Tropa Alfa-Ômega do Coronel (Harrelson) se aproxime de movimentos neonazistas.

Segregação, eugenia, definição entre humanos e “não-humanos” parecem mais terríveis se levarmos em conta o país da produção. Outro motivo para esse ser um filme mais adulto é porque ele incorpora um tom político. A grande jogada de Reeves é que o seu filme passeia, simbolicamente, entre passado e presente. A humilhação que os macacos enfrentam é tanto uma referência ao êxodo do povo judeu e séculos depois o sofrimento nas mãos dos nazistas, o massacre dos índios norte-americanos, quanto a politica segregacionista dos EUA, passando pela demonização que algumas alas extremas pintam dos estrangeiros naquele país. Visto assim, essa é uma obra mais importante.

Esse é um tema bem pesado por si só, e os outros dois filmes também eram e, do mesmo jeito que eles, precisamos de um descanso – tão curtos quanto as experiências anteriores quando, por exemplo, no segundo filme os humanos conseguem fazer as luzes da hidroelétrica funcionar. Aqui esse exemplo cai no alívio cômico de Macaco Mau (Zhan). Mas não pense que ele é apenas um Jar Jar Binks fazendo bobagens para nos fazer rir. O próprio nome que o chimpanzé se rotula vem do modo que foi criado, um paralelo de como o ambiente nos molda quando ele é demasiado ofensivo: você começa a acreditar que é tudo aquilo que dizem. Esse momento de humor que não existia nas produções anteriores traz risos, mas assim como o luto comentado anteriormente, não pode existir por muito tempo num cenário de guerra.

Por isso que a parte que Cesar encontra o lugar onde as tropas do Coronel se reúnem pareça tão exagerada. É que vindos de tanto confronto, tanta dor e tanta correria, o filme para um respiro. Inclusive com o vilão explicando todo seu plano – e dá tons de cinza ao personagem – naquele que é o momento mais reflexivo ao mesmo tempo que é o mais expositivo, com direito à um Cesar crucificado nos mesmos moldes da Zona Proibida em 1968. E apesar desses signos mais ligados ao cristianismo, inclusive com uma ferida à base de algo similar a uma lança, Cesar é mais um Moises do que um Cristo para Reeves. São tantas referências desde religiosas àquelas de ditados populares, como quando o protagonista fica com sangue nos olhos literalmente, como a de período históricos, que fica impossível não entender a mensagem.

Ainda mais grandioso que o conflito que marcou visualmente o filme de 2014, com aquela linda cena em plano sequência, essa parte da trilogia ganha mais pelo roteiro do que pela direção. Apesar de ser o mesmo diretor, Reeves parecia mais inspirado na parte anterior. O que não é demérito nenhum, porque, afinal de contas, preferiram contar uma história melhor, algo que encaixa os dois universos, o da dessa década e a da dos anos 1960. Com os já citados nomes de Nova, da tropa Alfa-Ômega e um confronto que lembra a pergunta que Taylor faz ainda no prólogo da produção de 1968, Reeves homenageia quem lhes abriu o caminho, sem necessariamente precisar deles para continuar.

E assim como os importantes filmes de guerra, Planeta dos Macacos: A Guerra é uma história de como os conflitos nos mudam e nos moldam. Cesar constantemente lembra que não foi ele que a começou, mas isso não impede que a cada passo ele lembre cada vez mais Koba (Kebbell) e colocando outras camadas de pecados sobre a sua alma, o que o torna falho, mais próximo já citada figura de Moisés e, consequentemente, mais humano. É sim um blockbuster, mas que não pende do mal de vários deles, arrastando histórias tendendo ao infinito (apesar de que ainda é possível acontecer) com um poder de emocionar e fazer pensar a quem estiver disposto a ouvir.

Planeta dos Macacos: A Guerra concorre ao Oscar 2018 na categoria Melhores Efeitos Especiais (Joe Letteri, Daniel Barrett, Dan Lemmon e Joel Whist).

Planeta dos Macacos: A Guerra | Trailer

Planeta dos Macacos: A Guerra | Pôster

Planeta dos Macacos: A Guerra | Galeria

Planeta dos Macacos: A Guerra | Sinopse

Dois anos depois do confronto, Cesar (Serkis) ainda tenta encontrar um lugar para que sua raça viva em paz e distante dos humanos. Mas o desespero de alguns colocara novamente em conflito as duas espécies que lutam pela sobrevivência.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".