Orgulho e Preconceito e Zumbis | Crítica | Pride and Prejudice and Zombies, 2016, EUA

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Mesmo com problemas na execução, Orgulho e Preconceito e Zumbis, reimaginando o clássico de Jane Austen, prova que zumbis deixam tudo mais divertido.

Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)

Com Lily James, Sam Riley, Jack Huston, Bella Heathcote, Douglas Booth, Matt Smith, Charles Dance, Lena Headey. Roteirizado por Burr Steers, baseado no romance de Jane Austen e Seth Grahame-Smith. Dirigido por Burr Steers.

6/10 - "tem um Tigre no cinema"É inegável o peso do clássico do original de uma das mais renomadas autoras inglesas. Porém, é muito importante se desvencilhar da fonte de inspiração para entender a proposta de Orgulho e Preconceito e Zumbis. Em primeiro lugar, e talvez de maneira menos clara, é importante por colocar mulheres em destaque. Mulheres com espadas e que lutam artes marciais. Claro, a luta de diferença de classes ainda está lá, mas com uma leve e interessante distorcida do livro do século XIX. A intenção é divertir o público. O que melhor que zumbis para atingir esse objetivo?

É difícil estar na sombra da grande autora que foi Austen. No entanto, deve ter sido libertador para Seth Grahame-Smith – autor do livro – poder brincar com novos elementos dentro do universo criado em 1813. Ao mesmo tempo que pode parecer muito estúpido, como foi caso de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (pelo menos em sua versão cinematográfica). A questão é que a comparação pode ser desastrosa, e é bem melhor analisar a obra como algo totalmente a parte. Assim poderemos ver seus acertos e erros. E há bastante de ambos.

A intenção de Steers, tanto diretor como roteirista, foi sim divertir a plateia. Mas existe espaço para um discurso social e mostrar como a estupidez humana funciona, como vemos na primeira ação do Coronel Darcy (Riley). Mesmo com uma praga – que nesse caso é a dos zumbis, mas poderia ser qualquer outra –, ainda temos que lidar com segredos que não dizem a respeito aos outros, mesmo que isso custe-lhes a vida. Em oposição à dureza e aristocracia de Darcy, Elizabeth Bennet (James) e suas irmãs dão beleza e leveza à trama. Numa mistura de poses sexy e fortes, é quase impossível não gostar de um filme onde as jovens tem que se acostumar com espartilhos apertados enquanto acham lugares para suas adagas e outros objetos cortantes.

Sem conhecer o livro de Austen – imagino que seja o caso de muitos – é divertido ver como os diálogos se dão junto com o combate que, de certa maneira, também é um diálogo. Pelo bem da narrativa e ritmo do filme, algumas das discussões acontecem ao mesmo tempo. O diretor opta por em certos momentos diminuir a ação com técnicas de slow-motion, como na primeira vez que as irmãs Bennet enfrentam um ataque zumbi, e mais à frente, quando Darcy e Elizabeth discutem e lutam, a velocidade é normalizada. Interessante porque na primeira parte é a percepção de Darcy e seu amigo Bingley (Booth) sobre aquelas diferentes e ainda assim encantadoras mulheres.

Os diálogos são profundos, carregam em certos momentos paixão, em outros preconceitos. E aí que as coisas podem se perder um pouco, principalmente quando há combates. Fica a ligeira impressão que podemos perder alguma coisa importante quando as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. É bem mais divertido quando o preconceito vem de maneiras diferentes da aristocracia clássica. Por exemplo, Darcy esnoba os conhecimentos marciais de Elizabeth por motivos regionais. As famílias ricas foram treinar no Japão, enquanto as menos abastadas foram para a China. São outros níveis de preconceito, mas ainda o são, e é bom quando eles são descontruídos quando Elizabeth cita que o livro de cabeceira de qualquer estrategista, A Arte da Guerra (de Sun Tzu), foi escrita por um chinês.

No entanto, o maior problema do filme acaba sendo técnico. Em primeiro lugar, é um filme de época, e filmes assim pedem um tratamento de fotografia um bem mais trabalhado. O trabalho do cinematógrafo Remi Adefarasin beira o preguiçoso na produção. É verdade que muito disso vem do falto da filmagem com câmeras digitais. Ela dá um aspecto tão limpo e cristalino às cenas que não parece um recorte de uma história fantástica passada 200 anos atrás, e sim vindo de alguém recém-saído da faculdade que está deslumbrado com a tecnologia. Porém, devo admitir, que coisas como a falta de grão – algo ausente na filmagem digital – vem mais de uma preferência estética visual e está longe de ser tido como verdade.

E essa decisão se reflete nos efeitos especiais. Como todo filme de zumbi deve ser, esse é uma produção gore. Mas pelo bem da indicação classificativa (PG-13 lá fora e provavelmente 12 anos aqui) e por razões mercadológicas, vemos poucas pessoas sendo devoradas pelas hordas dos não-vivos – quando alguém aparece sendo comido, estão de rosto virado ou na penumbra. Em compensação, temos uma dose suficiente de zumbis sendo desmembrados, decapitados e explodidos. O que aumenta a sensação de diversão e satisfaz aquele nosso lado mais sombrio e que gosta desse tipo de coisa.

Existe também, infelizmente, um mau aproveitamento de um personagem e um ator. O material promocional deu muita ênfase em Lady Catherine de Bourgh (Headey), uma aristocrata lendária na arte de matar zumbis e que tem sua figura imponente aumentada pelo uso de um tapa olho. Portanto, é decepcionante vê-la tão pouco em ação. Por outro lado, o tão querido Matt Smith está num papel engraçado, mas exagerado e com a sensação de estar atuando no automático. Ele não está mal no papel do Pastor Collins, mas os trejeitos e modos de falar parecem tão artificias que fica bem claro que ele foi trazido para chamar a atenção nos cartazes.

Divertindo que procura algo descompromissado, Orgulho e Preconceito e Zumbis consegue carregar em si também um algo do discurso apresentado por Jane Austen e algo muito em voga e que parece estar, de um jeito ou outro, mudando certos paradigmas da cultura de massa. Ao dar poder às mulheres da trama e fazendo que elas salvem tantos homens despreparados quantos os preparados, a produção assume uma posição. E isso também é importante. Mesmo com os efeitos especiais deixando a desejar, as lutas foram bem coreografadas (três meses de treino sozinhas para depois mais dois em conjunto, de acordo com Lilly e Bella) enquanto nos deixamos levar junto com o sangue espirrando na nossa cara nessa diversão que, assim espero, apresente aos mais jovens a qualidade da autora.

Sinopse oficial

Um surto de zumbis se abateu sobre a Terra nesta releitura do conto clássico de Jane Austen que trata das relações e enlaces amorosos entre amantes de diferentes classes sociais na Inglaterra do século XIX. A resoluta heroína Elizabeth Bennet (Lily James) é mestre em armas e artes marciais; e o belo Mr. Darcy (Sam Riley) é um feroz assassino de zumbis e símbolo máximo do preconceito inerente às classes superiores. Mas à medida que o surto zumbi se intensifica, os dois devem deixar o orgulho de lado e unir forças no campo de batalha encharcado de sangue, a fim de acabar com o exército morto-vivo de uma vez por todas.”

Orgulho e Preconceito e Zumbis | Pôster brasileiro

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".