O Filho Eterno | Crítica | 2016, Brasil

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O Filho Eterno é um bom drama que traz consigo os aprendizados que temos pelo amor ou pela dor.

O Filho Eterno (2016)

Elenco: Marcos Veras, Débora Falabella, Pedro Vinícius, Uyara Torrente, Zeca Cenovicz, Augusto Madeira | Roteiro: Leonardo Levis | Baseado em: O Filho Eterno (Cristovão Tezza) | Direção: Paulo Machline (Trinta)

7,5 - "tem um Tigre no cinema"Se existe uma grande lição que a vida te dá é que nossos planos são uma ilusão. Sempre acreditamos que não vai acontecer conosco, até que acontece e, em desespero, procuramos culpados ao invés de entendimento. O Filho Eterno é um drama que conta com esse peso de termos de encarar a vida com todas essas surpresas e como aprendemos pelo amor ou pela dor. É uma produção nacional fora dos padrões que somos saturados na comédia nacional ao abordar a Síndrome de Down que assim como muitos outros problemas – incluindo os sociais – preferimos fingir não estar lá, além de mostrar uma mensagem sobre inclusão.

Ao escolher nos contar a história pelos olhos de Roberto (Veras), um escritor, o drama ganha tons poéticos que são refletidos na escolha da fotografia, figurino e enquadramentos de Machline. Apostando nos planos longos, criando uma empatia com o escritor e sua esposa Cláudia (Falabella), a trama faz um paralelo com a esperança de ver uma seleção tetracampeã em 1982 com o nascimento do filho dos dois. Podemos perceber nesses primeiros momentos o modo que câmera foca neles, com movimentos suaves e mínimos cortes, como um retrato de família a ser guardado. Uma situação quebrada narrativamente pela pesada citação do Down.

Esse primeiro ato é bem curto – assim como o filme – e a partir daí temos momentos de câmera mais trêmula, um fundo desfocado quando Roberto começa a digerir a notícia, começando logo nesse momento o abandono da paixão pelo futebol e do filho recém-nascido. Figurino tons pastel, bebidas e sombras fazem parte a partir de então da percepção da vida de Roberto, um peso representando pelo foco em vários relógios, o peso do tempo, e outros símbolos, como percebemos na cena em que os sinos de uma igreja incomodam o personagem, com ele se afastando de uma fé não proferida, mas parte da personalidade do personagem.

Para criar uma identificação com uma parte dos brasileiros, Levis – baseado no original de Tezza – liga os pontos de virada do roteiro com a situação da seleção brasileira de futebol entre as Copas do Mundo de 1982 a 1994. Mas é uma abordagem rasa. Puxar a paixão futebolística da nossa população serve só para isso, além de nos limitar como país. O filme passa uma mensagem importante sobre inclusão, como na cena que Fabrício (Vinícius) tem que sair de uma escola comum, que a abordagem fica perdida. A esperança renovada com a seleção em 1994 é muito, mas muito inferior à alegria de ver pai e filho unidos de novo. Além de que já percebemos de longe os pontos de virada da história.

A obra reflete o seu material de origem. Ou seja, é ligeiramente uma biografia do autor. Em Roberto, influenciado pelo original, é despejada um misto de desespero e culpa que leva o personagem a se afastar primeiro emocionalmente e depois fisicamente. Exilando-se por vontade própria em Florianópolis, Machline reforça constantemente um estado de solidão ao colocar Roberto em planos isolados, seja na praia ou dirigindo pela estrada. Mesmo quando ele está com Marina (Torrente) há um incômodo visual causado pelas paredes do hotel que berra luxúria pelas paredes vermelhas – lembram até o chão do Hotel Overlook –, reforçando que ali não é um lar, ainda que o diretor exagere nesse signo.

Apelando em poucos momentos para a trilha sonora, são as cenas mais silenciosas as mais marcantes. O monólogo de Cláudia sobre um dos aniversários de Fabrício que o pai não estava presente – em 1986, a única Copa que não vemos na narrativa – é um momento de entrega tão grande da personagem, com uma interpretação emocionante de Falabella, exatamente por sermos só nós, o casal e o público, a ouvirmos. Com alguns cortes para mostrar a reação de Roberto, e sem música de fundo, entendemos como a relação da personagem com o filho, construída por um amor verdadeiro e nada egoísta.

Egoísmo que é a mais forte representação de Roberto. Em oposição ao discurso de Cláudia, ele fica feliz, mais cedo, com a possibilidade do pequeno Fabrício morrer antes dos dois anos. Essas séries de conflitos dão o tom à narrativa que culminam numa cena desesperadora para qualquer mãe ou pai, onde Machline volta à câmera na mão, com mais cortes e com a lente quase colocada no rosto de Roberto fazem emergir um novo homem, dessa vez um pai, que aprende pela maneira mais difícil, o da dor – um momento que vale a atuação de Marcos Veras e a doçura de Pedro Vinícius.

Mostrando uma época de pouca compreensão da síndrome de Down – o que explica uma instituição com toda pompa de picareta ser anunciada numa publicação entregue por um médico – O Filho Eterno serve também para o nosso tempo. Assim como olhos incomodados fitam o ainda bebê Fabrício na espera de uma consulta, a sociedade se porta assim com pessoas que precisam apenas do que todos nós precisamos: atenção e amor. É uma atitude que deve ser feita não por uma obrigação paternal ou, como podem dizer pejorativamente, a coisa que um homem deve fazer. É porque é a coisa certa a se fazer, seja qual for o seu gênero.

O Filho Eterno | Trailer

O Filho Eterno | Pôster

O Filho Eterno | Pôster

O Filho Eterno | Imagens

O Filho Eterno | Galeria

Créditos: Divulgação

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O Filho Eterno | Galeria

Créditos: Divulgação

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O Filho Eterno | Sinopse

Roberto, escritor ainda não publicado, está seguro de que o nascimento do filho é o marco para uma nova vida. No entanto, ainda no hospital, ele descobre que terá de se acostumar com uma nova ideia – ser pai de Fabrício, uma criança com síndrome de Down. A notícia provoca em Roberto uma enxurrada de emoções contraditórias e conflitos que acabam afetando sua relação com o trabalho e seu casamento com Cláudia. Numa jornada de 12 anos, entre obstáculos, conquistas e descobertas, se revela o significado da paternidade. Baseado na obra de Cristovão Tezza”.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".