O Espetacular Homem-Aranha | Crítica | The Amazing Spider-Man, 2012, EUA

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O Espetacular Homem-Aranha é um reboot muito precoce, porém consegue divertir em alguns momentos, apesar dos tropeços no roteiro.

Com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Campbell Scott, Irrfan Khan, Martin Sheen, Sally Field e Chris Zylka. Roteiro por James Vanderbilt (Zodíaco), Alvin Sargent (Homem-Aranha 2) e Steve Kloves (Harry Potter e as Relíquias da Morte). Argumento de James Vanderbilt. Dirigido por Marc Webb (500 dias com ela).

Contem-nos boas histórias, pois é isso que nós espectadores queremos. O reboot da franquia do Homem-Aranha veio cedo demais, ao ponto de uma celebridade web, dita conhecedora do universo nerd, dizer ao seu milhão de seguidores que o filme seria ruim por ter uma “Mary Jane loira”. Outros, até achavam que o filme seria o 4º da franquia original. “O Espetacular Homem-Aranha” é um bom filme, um pouco abaixo do patamar de “Os Vingadores” (The Avengers, 2012). Apesar de ser divertido, conta com uma série de tropeços no seu roteiro.  Mas o filme consegue momentos divertidos e de mais seriedade.

Passando por um breve flashback, o filme em transita numa passagem de tempo num raccord onde Peter Parker (Garfield) se vê num reflexo indefinido de um vidro, vivendo num mundo quase seu. Toda essa introspecção faz o personagem passar longe da popularidade, mas ele é conhecido por seu trabalho fotográfico, anda de skate, e é piadista, além de ser uma pessoa com um bom coração. Tudo isso faz Peter se tornar um pouco mais cool e por isso chama a atenção de Gwen Stacy (Stone). O diretor de fotografia John Schwartzman (que trabalhou em “Uma Noite no Museu 2”) usa de uma interessante alternância de cores no ambiente que Peter vive, como a sala e a cozinha da casa onde mora e a escola são ambientes mais iluminados, entram em contraste principalmente pelo modo de ser vestir (sempre com tons pasteis, puxados para o marrom) e pelo seu quarto. Ben (Sheen) e May (Field) são os tios que cuidam de Peter desde a partida dos pais. Numa dessas arrumações de rotina na casa, Peter encontra uma velha bolsa que eram dos pais. E apesar de Peter dizer “Não tem nada aqui”, até que tinha bastante coisa, mesmo sem considerar o compartimento secreto. Peter vai até o seu quarto para examinar o que achou, e notem ao redor os traços que compõe a personalidade de gênio de Peter (um cubo de Rubix, uma foto de Albert Einstein e uma sequencia molecular na parede) e o gosto por fotografia, investigação e até um traço bislhoteiro (pelo pôster de “Janela Indiscreta” na parede). O diretor usa de outra transição muito interessante, por ser contemporânea: a cena vai do quarto de Peter, onde ele tem uma foto de Gwen como papel de parede no computador, para a loirinha na vida real. Por coincidência, ela trabalha na Oscorp, empresa onde o Dr Curt Connors (Ifans) é chefe do setor de bioengenharia. Peter descobre pelos documentos deixados pelo pai que os dois tinham alguma ligação, e invade a empresa para poder falar com o pesquisador. A cena da invasão é um misto de providência com total incompetência da segurança dessa empresa gigantesca, o que rende questionamentos por não ser verossímil, mas diverte. Se você viu os filmes anteriores, vai notar que toda a equipe faz questão se distanciar ao máximo o novo filme dos elementos passados. A picada que Peter leva da aranha geneticamente modificada é muito mais culpa dele, e de sua dita personalidade, do que acidente (e existem outros elementos que tiram o lado “acidental” da história). Ao burlar o sistema de segurança de uma sala com muita facilidade (eu diria para a Oscorp rever seriamente seu quadro de seguranças), Peter encontra uma câmara com não uma, mas centenas de aranhas, num mundo de teias e permeado por raios azuis e vermelhos. A alteração no metabolismo de Peter por causa da aranha traz efeitos visuais muito bem feitos, e, mais uma vez, momentos engraçados protagonizados entre ele (que agora é um adolescente com poderes) e seus tios Ben e May. Há inclusive uma cena que rotulei como “Pica-Pau”. Tente perceber qual é, e me digam se já viram alguma coisa muito parecida com o desenho do nosso querido pássaro maluco.

Depois, o filme conta com a transição da comédia para o drama e aventura. Connors se junta a Peter, com os documentos que encontrou na pasta do pai, num experimento que possibilitaria pessoas restaurar membros amputados. O próprio Connors não tendo um braço é entusiasta maior dessa tecnologia. Mas também existe a figura oculta de Norman Osborn, presidente da Oscorp, que apenas é citado pelo doutor e seu assessor, o Dr Rajit Ratha (Khan), que diz que o chefe tem “pouco tempo”. Não fica claro o problema de Osborn, mas com o sucesso dos testes em cobaias, o dedicado empregado mostra não ter escrúpulos. Para evitar que testes sejam feitos em humanos, o Dr Connors testa nele mesmo a fórmula. É interessante o detalhe da cor do soro genético, e como a sala de Connors é representada nesse momento por tons sombrios e por um quadro pendurado ao fundo com a foto de um raio, como se dissesse que ali estavam o Dr Frankstein e seu monstro. E aí nasce o Lagarto, um vilão em CGI consegue passar um tom ameaçador. Os detalhes das texturas da pele e dos olhos do Lagarto são os mais impressionantes.

Peter passa por seus próprios dramas. A mudança o fez se sentir mais confiante, o que lhe deu também uma dose de arrogância. Seus encontros com o Dr Connors e suas novas habilidades parassem ser mais importantes que a família, e o que faz ter um atrito com o tio, que lhe dá um sermão (mas não aquele de “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, se distanciando mais ainda da primeira versão), culminando no clímax da tragédia da morte do Tio Ben por um bandido que Peter não impediu (e, de novo, de um jeito diferente do clássico, mas não sei dizer se tem a ver com o chamado universo Ultimate dos quadrinhos). Nesse ponto o roteiro tem uma das suas maiores falhas: Tio Ben tem todo o seu discurso de “fazer o certo, não importa a situação”, mas a ação que resulta em sua morte é estúpida demais. Talvez preguiça dos roteiristas, ou o velho problema de ter muitas mãos envolvidas. A partir daí Peter entra em um frenesi para descobrir o assassino de seu tio, carregado pela culpa e motivado pela vingança. A inspiração de ser um vigilante mascarado também é diferente, mas tem uma pequena relação com o original. Outro problema do roteiro é a construção do disparador de teias. Baseada nos quadrinhos, Peter constrói o aparelho, apesar de não ser ele que desenvolve a tecnologia da teia, e sim a adapta de produto da Oscorp. E como ele comprou a base das suas teias, que parece ser um material caríssimo, já que em nenhum momento a família que vive no subúrbio vive tem grandes posses? Outro momento que se quis fazer piada, mas ficou totalmente falho é a cena do assaltante de carros: afinal de contas como o Homem-Aranha entrou e saiu de um carro fechado? Teve uma ajuda do Homem-Formiga talvez.

“O Espetacular Homem-Aranha” é um bom filme, com poucos momentos muito bons: seu personagem principal consegue ser piadista, fazendo coisas de adolescente e se “divertir no trabalho”; passa pelo estágio da humanização do herói; alterna momentos doces (na cena quando Gwen trata das feridas de Parker) com tragédias (em uma das cenas finais, num momento muito triste, parecendo que neva); diverte, focando mais tempo na ação do que no treinamento; conta com a boa linguagem corporal de Andrew Garfield; usou pelo menos duas vezes a filmagem fora de foco, para atrair um realismo; e escapa de focar demais na relação romântica de Peter e Gwen. Mas também tem outras falhas a serem apontadas: tem diálogos previsíveis; conta com a música de James Horner com bons momentos, mas pontuais. Já que não lia os quadrinhos da Marvel Comics, não posso dizer se foi uma boa homenagem ou não. Posso dizer que é um filme que deve ser visto, e que se comparado com a franquia prévia, fica um pouco abaixo de “Homem-Aranha” (Spiderman, 2002), e muito aquém de “Homem-Aranha 2” (Spiderman 2, 2004). Agora é esperar que a sequência faça jus à esse evolução.

Sobre o 3D, digo para vocês economizarem seu dinheiro, e assistirem a versão normal. Além de usar pequena profundidade de campo, aquela que desfoca elementos ao fundo, a cena que muitos esperavam, com o Homem-Aranha em primeira pessoa, é mais curta do que no trailer. Não vai fazer falta.

Sim, temos a “clássica” participação de Stan Lee. E bota clássica nisso.

Existe uma cena entre créditos. Então, como qualquer filme da Marvel, não sai da sala de cinema antes disso. Me surpreendi por ela existir na cabine de imprensa.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".