O Caseiro | Crítica | Brasil, 2016

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Nadando em rios pouco navegados, O Caseiro é um suspense nacional com elementos tirados de outros filmes, mas que vale a pena ser visitado.

O Caseiro (2016)

Com Bruno Garcia, Leopoldo Pacheco, Denise Weinberg, Malu Rodrigues. Roteirizado por Julio Santi, Felipe Santi e João Segall. Dirigido por Julio Santi.

Nadando em rios pouco navegados, O Caseiro é um suspense nacional com elementos tirados de outros filmes, mas que vale a pena ser visitado.

6/10 - "tem um Tigre no cinema"Num cenário onde as comédias de gosto duvidoso dominam, vale a pena dar uma olhada em um gênero pouco explorado no cinema nacional. Apesar disso, não espere nenhuma originalidade em O Caseiro. Durante a projeção fica fácil caçar referências de produções recentes e clássicas. Mesmo assim é um filme bem dirigido, foge dos aspectos técnicos de produção que tem a intenção de fazer sucesso na televisão e insere alguns elementos familiares para nós brasileiros. Vale, no mínimo, uma visita apenas para confirmar que o nosso cinema não é só Globo Filmes.

Vale a pena começar a esmiuçar a direção de Julio Santi no quesito técnico. A ambientação da história é vagamente familiar para quem é ou passou algum tempo no interior, a razão de aspecto é larga – o que indica um cuidado mais cinematográfico e menos televisivo – há vários planos-sequência, que aumentam a sensação de tensão de virar esquinas junto de Davi (Garcia) e a fotografia é coberta de uma paleta cinza e fria, acompanhando uma quase constante névoa que remete tanto ao cenário quanto a uma clássica sensação dos filmes de suspense.

Porém, com alguns minutos de projeção e se você for mais aficionado pelo gênero, notamos que Santi filma com similaridades que remetem outras obras. A cena na escola onde Davi conhece Renata (Rodrigues) é esteticamente parecida com uma em Invocação do Mal (The Conjuring, 2013, Dir James Wan). A cena do corredor em que a menina Lili (Prates) pede para que o professor não vá para o lado de fora e as contagens dos dias da semana que vão passando remetem muito ao clássico O Iluminado (The Shining, 1980, Dir Stanley Kubrick). As referências são tão óbvias, em especial a esse último, que parecem mais homenagens.

Ainda assim existem elementos mais originais: o paralelo entre o catolicismo e o espiritismo, por exemplo. Apesar de sermos um país onde mais de 60% das pessoas dizem seguir a doutrina apostólica romana, não é difícil conhecermos alguém criado nesse modelo e que tem simpatias ou uma tendência a aceitar doutrinas espíritas. E a família de Rubens (Pacheco) é um microcosmo disso com ateus, católicos, espíritas numa misturas de crenças no desespero de parar com as mazelas que atingem Julia (Batista). Além da casa velha, do interior e seus causos que você provavelmente ouviu alguma vez de uma avó ou uma tia.

A produção também acerta na caracterização de Davi como psicólogo, sempre se abaixando para olhar nos olhos das crianças, buscando conexão com elas, tentando fazer jus ao peso do seu nome – o sábio rei dos hebreus –, ponderado nas suas investigações. E o roteiro não deixa de lado a questão humana do personagem, contando muito pelo mostrar e não o falar. O apartamento do professor é amplo, cheio de livros, mas vazio, dando dicas da aceitação do personagem e de sua jornada de conhecimento. Há outras brincadeiras visuais, como quando numa das descobertas de Davi ele fica parcialmente iluminado por uma lâmpada no teto, mas com a maior parte de seu corpo ainda na penumbra, um prenúncio do que se mantém quase até o desfecho.

E é nesse desfecho que reside o grande problema da produção. Mesmo que não apele para sustos fáceis – o filme é mais tenso que assustador – Santi abusa da crença da plateia ao dar a explicação final. Pior ainda, a resolução da trama chega a ser desonesta. A história inclui uma série de signos e elementos que, a princípio, faz sentido quando se fecha. Mas, revisitando na sua mente, há uma cena em que o elemento não funciona, o que atrapalha a sua mente na hora de montar o quebra-cabeça. Serve mais para fazer você ter vontade de reassistir o filme e conferir do que outra coisa.

Isso não quer dizer que O Caseiro seja um desastre, é apenas um representante menor do gênero. E se levarmos em conta que o cinema nacional tem poucos exemplos – com exceção de curtas e filmes independentes que aparecem em festivais – fica a sensação de dever cumprido numa prova de que esse tipo de produção pode funcionar para uma audiência que não acredita no cenário cinematográfico nacional. A falta de originalidade não é um demérito, afinal de contas, nem os melhores filmes hollywoodianos de hoje são originais, com pouquíssimas exceções. Com isso em mente e com espírito aberto, ainda que não seja marcante, é mais que possível gostar do filme.

Veja o trailer de O Caseiro

Veja a galeria de O Caseiro
Caseiro

O Caseiro | Galeria

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Sinopse oficial de O Caseiro
“Suspense que conta a história de Davi, um cético professor de psicologia, famoso por escrever um livro que explica aparições sobrenaturais através da psicanálise. Após anos sem atender pacientes, ele, com o intuito de escrever um novo livro, viaja para uma cidade do interior para investigar a história de um homem que acredita que sua filha está sendo assombrada pelo fantasma do antigo caseiro de sua propriedade, que se suicidou.”

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".