It: A Coisa | Crítica | It, 2017, EUA

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Apesar de apelar para sustos convencionais, It: A Coisa é competente quando se trata de dar medo.

Elenco: Bill Skarsgård, Jaeden Lieberher, Jeremy Ray Taylor, Sophia Lillis, Finn Wolfhard, Wyatt Oleff, Chosen Jacobs, Jack Dylan Grazer, Nicholas Hamilton, Jackson Robert Scott | Roteiro: Chase Palmer, Cary Fukunaga, Gary Dauberman | Baseado em: It: A Coisa (Stephen King) | Direção: Andy Muschietti (Mama) | Duração: 135 minutos

A primeira pergunta que provavelmente passa na sua mente é como alguém pode ter medo de palhaços. A resposta é o estranhamento no comum, a mesma coisa que sons de madeira se contraindo podem te acordar à noite. É nessa premissa que tanto a obra original de Stephen King quanto a adaptação cinematográfica de It: A Coisa se baseiam. Não é apenas para perturbar quem sofre de coulrofobia, o medo de palhaços, mas também assustar pela indiferença que os protagonistas passam. A versão de Muschietti tem bons momentos, estruturalmente falando é cativante e só peca por não deixar que a história assuste por si, apelando demais para scary jumps e músicas em crescendo.

É justo apontar que mesmo usando desse artífice um tanto desonesto de pegar a plateia de surpresa, a produção tem seus momentos de terror mais cru, especialmente no visual. Logo na primeira cena a fotografia de Chung-hoon Chung traz um tom fúnebre ao Mal que cairá sobre Bill (Lieberher) e seu irmãozinho Georgie (Scott). E antes de Pennywise (Skarsgård) aparecer, há uma música ao fundo que pode ser definida como um réquiem acompanhando George antes dele sair para brincar na chuva. E o mais interessante é que essa música se torna diegética, pois é a mãe dele que toca ao piano – uma personagem que não dá mais as caras depois do desaparecimento do filho.

Georgie e sua capa amarela fazem contraste num cenário já triste por causa da chuva e da fotografia cinzenta, uma inocência que é levada aos gritos e com sangue jorrando para um lugar frio e sem luz que é o esgoto onde o Palhaço Dançarino vive. Mais que uma tragédia, a morte de Georgie representa uma parte da inocência daquela cidade sendo drenada. O tom macabro, maior que a adaptação da TV dos anos 1980, permeia basicamente toda a narrativa. Com exceção de um descanso na cena da pedreira, com uma cor dada pela fotografia de tom amarelado, onde os Perdedores se reúnem para esquecer um pouco da tragédia que aconteceu com Bill.

Esse tom voltará em outros momentos, que é sempre quando os nossos heróis se reúnem em resgate à um da turma. Quando a turma com os sete ainda não está completa, ou quando eles ainda se sentem perdidos, há um elemento sombrio para quebrar essa luz. Pode ser a entrada de um dos tuneis que captam a água da chuva, ou a casa onde Pennywise se esconde. Nem mesmo a casa dos garotos escapa dessa sombra, algumas parecendo ameaçadoras por si só. Mas para não tomar muito tempo, Muschietti resume essa sensação de claustrofobia com as casas de Beverly (Lillis) e Eddie (Grazer), lugares onde a luz entra com muita dificuldade.

O grande problema do filme é que Muschietti não confia no medo contido nas páginas de King e dos roteiristas e usa em demasia a trilha sonora e para garantir que a audiência pule da cadeira, usando o artifício do som que sobe de repente para causar uma reação mais física que emocional. É uma tática quase infantil de se fazer terror e altamente prejudicada porque a música assinada por Benjamin Wallfisch praticamente não para de tocar. Então já estamos em estado de tensão e praticamente não há um momento, com exceção de duas cenas doces, em que estamos preocupados com alguma coisa que sairá das sombras para atacar.

Outro incômodo é a fala de luto de Bill para o irmão. Para alguém que faz planos para descobrir onde o garoto poderia ter parado, a atitude do jovem parece muito normal. Se as atitudes dele fossem mais parecidas com a de Richie (Wolfhard), que usa piadas ruins como um escudo emocional, seria mais crível. O jovem, no entanto, não parece estar usando uma fachada. E mesmo sendo um filme longo e que leva algum tempo para desenvolver a personalidade dos sete jovens, a de quem mais sofreu com as ações de Pennywise foram as que menos pesaram na trama.

Por outro lado, o roteiro mostra muito bem o sofrimento dos outros párias que são vítimas de todo tipo de bullying, cada um com seu rótulo – o gago, o negro, o menino da mamãe, o judeu, o míope, o gordo e a vadia. Palavras que não significam nada, mas que limita esses sete aos olhos de uma sociedade que está presa na própria inabilidade de empatia, onde se nota que a influência de Pennywise vai além de levar crianças para servirem de alimento, como podemos perceber quando Ben (Hanscom) está sendo atacado por bullies e um casal passa por eles de carro e não faz nada, mas carregam com eles um balão vermelho, representando a presença do palhaço.

E para compensar o problema dos sustos fáceis, o filme funciona em outros quesitos, como os signos (esse último muito influenciado para a obra original). Beverly, por exemplo, com seus cabelos ruivos cor de fogo mostram uma chama interna que é sufocada por aquela casa e seu pai e com Mike (Jacobs) aprendendo desde cedo o que é ser um jovem negro nos EUA. E pode parecer que não é tão claro, mas além de um conto de terror, essa é uma história de amadurecimento, uma fase onde começamos a nos afastar dos nossos pais e tomarmos nossas próprias decisões e atitudes. Também há o simbolismo bem tradicional no número sete (a criação em sete dias, setenta vezes sete) e outro, um pouco mais sutil, quando Beverly mancha Bill com seu sangue – que, digamos assim, conserta a cena polêmica do livro.

É divertido caçar esses símbolos enquanto tomamos sustos – mesmo os mais fáceis – como a aparição de um garoto sem cabeça (principalmente como ele aparece), um leproso zumbi – que parece uma versão profanada de Cristo – e o banho de sangue no banheiro de Beverly, o que resulta na primeira união de forças desses sete contra um ser que não dá descanso à cidade de Derry. E assim como na obra original, It: A Coisa nos convida a enfrentar nossos medos, a dar valor às amizades e a busca pela coragem de quebrar laços para que enfrentemos os grandes desafios da vida. É uma história de passagem para a vida adulta; uma que terá seus próprios desafios.

It: A Coisa | Trailer

It: A Coisa | Pôster

It: A Coisa | Pôster Brasil

It: A Coisa | Galeria

It: A Coisa | Sinopse

Várias crianças começam a desaparecer na cidadezinha de Derry. Um grupo de jovens descobre que um antigo mal voltou para novamente acalmar sua fome. Um ser que toma a forma de um palhaço: Pennywise.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".