Feito na América | Crítica | American Made, 2017, EUA

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Doug Liman usa de piadas para falar de um assunto sério Feito na América e desse jeito serve tanto de veículo quanto de crítica.

Elenco: Tom Cruise, Sarah Wright, Domhnall Gleeson, Caleb Landry Jones, Alejandro Edda, Mauricio Mejía | Roteiro: Gary Spinelli | Direção: Doug Liman (No Limite do Amanhã) | Duração: 115 minutos

A abordagem cômica – e que funciona demais – em Feito na América é eficaz por dois motivos. Primeiro, porque é mais fácil abordar um assunto sério fazendo piada dele. Segundo, porque expõem a grande piada da Guerra às Drogas que acontece desde a década de 1970. De maneira despojada, mas sem esquecer do conteúdo, Liman conta os detalhes de uma história suja que não sai do lugar há quatro décadas, mostrando como tudo é uma questão de como você vende a sua imagem e de como fins tentam justificar os meios. O que também é uma grande piada – a não ser que você faça isso pelos mocinhos.

Para dar um ar de veracidade à trama, Liman toma de elementos clássicos do cinema documental, como a câmera na mão e zooms próprios do estilo (aquele rápido, que precisa focar no assunto antes que ele se perca). O que é interessante, pois o diretor usa a técnica com mais de um efeito narrativo. Se analisarmos a cena em que Barry Seal (Cruise) está no avião, antes de conversar com Schafer (Gleeson), o diretor coloca a câmera quase no chão, num lugar muito improvável, mas que se justifica quando descobrimos que o piloto está sendo observado pela CIA por causa de seu pequeno contrabando.

Outro elemento que ajuda o ritmo do filme é a montagem. Os cortes rápidos e a já citada câmera na mão servem para mostrar como a vida quase pacata de Barry mudou de um patamar para o outro. A questão do tempo primeiro funciona para mostrar a quantidade de lugares que Barry vai e o pouco tempo que ele tem para dar atenção à família. Mas para mostrar também que o personagem já era um pouco ousado mesmo nessa época, temos a cena onde o piloto simula uma turbulência só para chacoalhar a sua vida – que era pilotar. Por isso a aceitação do trabalho para a CIA vem tão fácil. Isso, e é claro, a ameaça velada do agente Schafer.

Os cortes passam de contar a ocupação de tempo com trabalho – nas cenas em que o piloto saúda os passageiros – para a adrenalina. Esteticamente falando, é uma assinatura do diretor, mas aqui Liman dá outro sentido narrativo. Antes Barry mal se encontrava com Lucy (Wright), agora as cenas de sexo com a esposa são frequentes e acontecem em lugares diferentes da casa. Além disso, a montagem ajuda a passar para audiência como foi rápida e maluca a evolução da jornada de Barry de piloto comercial, passando pelo trabalho com a CIA e depois para o que seria futuramente o Cartel de Medelín. E isso pode trazer uma dúvida sobre a índole do personagem. Seria Barry, essencialmente, um personagem desprezível? A resposta vem de novo pela estrutura, onde as ameaças não ditas pelos narcotraficantes colombianos não precisam ser explícitas – Liman confia na inteligência do espectador e não precisa explicar o óbvio.

Isso não quer dizer que Barry não gostava da adrenalina, como mostra a já citada cena da turbulência, mas apenas que nessa nova vida ela tomou novos picos, isso sem precisar que Barry se drogasse – curioso que uma das cenas mais loucas da história, o piloto está coberto de cocaína, da cabeça aos pés, mas não precisou dela para chegar nessa euforia. Então, desde o começo, Barry procurava algo para agitar sua vida e a aparição do Governo e dos Poderes Paralelos apenas aflorou esse sentimento que já fazia parte do personagem.

A produção, porém, não chega ao ponto de glorificar o uso de drogas ou a vida abastada de Barry e da família. O dinheiro começa a se tornar um problema também, seja por espaço – há cenas hilárias de notas e mais notas que fariam inveja a qualquer Geddel – ou pelo drama, quando a visão do dinheiro trás o pior possível para alguém que trabalha para um cartel. O melhor exemplo disso é a cena que Barry assiste uma explosão que leva uma vida e milhares de notas voam pelos ares e mesmo quando ele tentar fugir disso, se fechando numa sala, aparece outra mala de dinheiro que simplesmente está ali, como uma irremovível lembrança de que não se pode escapar de certas coisas.

Isso significa que há preços a se pagar, e mesmo para quem não conhece a história de Barry, sente isso. E de novo é o ritmo e a montagem do filme que prendem o espectador nessa pergunta: afinal, como virá aquele tiro? Por causa da rapidez da trama, ficamos entretidos enquanto Barry nos conta sua história/depoimento/testamento por meio de fitas VHS e só aos poucos, não exatamente como uma surpresa, entendemos que a conclusão está chegando. O ritmo ditado por Liman nos mantém tão ligados à trama que praticamente não percebemos que se passaram quase duas horas de projeção.

No fim das contas, apesar do tom divertido e de perseguições típicas de filmes de ação, Feito na América é uma grande crítica de como quem tem poder está pouco se lixando para as consequências. Fazendo um paralelo com O Homem da Máfia (Killing Them Softly, 2012, Andrew Dominik), outro grande filme, “A América não é um país; é um negócio”. O envolvimento com países como a Arábia Saudita, o Irã, alimentando países com armas sem se importar se o dinheiro viria da venda de drogas, desde que atendesse os próprios interesses, é o grande foco de Liman. É provável que uma audiência mais distante dessas questões não aprecie tanto o filme por esse ângulo, mas é importante apontar que ele existe.

Feito na América | Trailer

Feito na América | Pôster

Feito na América | Pôster Brasil

Feito na América | Galeria

Feito na América | Sinopse

A história de Barry Seal, um piloto comercial que se envolveu com a CIA, o FBI, a alta cúpula do governo dos EUA e também com o Cartel de Medelín, cruzando os céus das Américas enquanto entregava liberdade, armas e drogas, dependendo é claro do ponto de vista.

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".