Demon | Crítica | Demon , 2015, Polônia/Israel

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Provando que um filme não precisa ser aterrorizante para ser marcante, Demon fala sobre tradição e aborda o passado da Polônia de maneira metafórica.

Demon (2015)

Com Itay Tiran, Agnieszka Zulewska, Tomasz Schuchardt, Andrzej Grabowski, Adam Woronowicz, Wlodzimierz Press, Tomasz Zietek, Katarzyna Gniewkowska
. Roteirizado por Pawel Maslona e Marcin Wrona, baseado na peça de Piotr Rowicki. Dirigido por Marcin Wrona
.

8/10 - "tem um Tigre no cinema"A não ser que você seja muito sensível a isso tipo de coisa, é praticamente impossível, depois de a vida adulta, achar um filme que te faça sentir medo de verdade. O susto vai embora tão rapidamente quanto vem, então um filme de terror eficiente é aquele que te deixa tenso, caso do polonês Demon. O diretor não apela para elementos como aumentar a música para pegar o espectador desprevenido, preferindo escalar sutilmente os problemas do protagonista, ao mesmo tempo em que não entrega facilmente se há algo de sobrenatural no casamento. E é essa dubiedade que vai te deixar na ponta da cadeira enquanto tentamos tirar o verdadeiro sentido da narrativa.

Há uma inocência no casamento de Piotr (Tiran) e Zaneta (Zulewska), pelo menos no motivo que decidem se casar. E naquelas poucas horas entre o início e o fim da festa, existe uma metáfora sobre a vida em conjunto – aliás, o filme é cheio delas. Mas não é de se espantar que as coisas comecem a dar errado na vida do noivo exatamente quando ele não é sincero com sua futura esposa. Se pensarmos bem, é por isso que casamentos acabam: a mentira leva à falta de confiança, e a pessoa muda, mesmo que não seja de uma hora pra outra.

Nesse cenário onde logo no começo existem signos religiosos – chegando ao local da festa, Piotr testemunha algo que poderia ser um batismo ou a perversão dele; no casamento há representantes de duas religiões – o diretor prefere não explicar se o que estamos presenciando é de fato algo metafísico. Tudo pode e deve ser interpretado de maneira metafórica. Da descoberta de Piotr da ossada e da subsequente ocultação seguem momentos em que poderíamos apontar uma presença.  Porém, se temos a cena em que o segredo puxa Piotr de volta, na cena seguinte ele parece não ter passado por nada. Ou ainda quando ele se olha no espelho, procurando alguma coisa no rosto que não está lá, levanta mais dúvidas.

Além disso, há a questão da bebida servida no casamento. A celebração é regada à vodca por todos os lados, causando vários tipos de constrangimentos enquanto Piotr vai mudando de personalidade, encarnando talvez a jovem enterrada em seu quintal. Sendo ou não um dybbuk, é interessante nos debruçarmos sobre a metáfora. O pai de Zaneta (Grabowski) diz em determinado ponto que o país está cheio de cadáveres. Num lugar onde o regime nazista foi responsável pelo massacre de mais de quatro milhões de pessoas, entre cristãos e judeus, Wrona dá voz aos mortos. Ao fazer isso pelo meio de um filme de terror, a intenção é marcar o espectador por meio de gritos e dos violinos e da música dissonante de Krzysztof Penderecki.

Feito mais para a reflexão do que para o susto, Demon traz à tona um terror que fez parte da nossa história, e assim como o fantasma que persegue Piotr, é um horror que uma vez visto não pode ser desvisto. Principalmente se levarmos em conta que o nome do filme – Demônio – é só uma referência ocidental, mas não é o que o dybbuk representa. Ele vem para nos lembrar das tradições, do passado. E mesmo que a intenção do diretor não tenha sido fazer um filme sobre o Holocausto, parece que algo o chamou para esses ecos. Uma necessidade de contar uma boa história foi consequência.

Sinopse oficial
Piotr e Zaneta recebem de presente de casamento uma terra para construírem sua casa. Durante a preparação do solo, o noivo descobre ossos humanos. Esta será a primeira de uma série de acontecimentos bizarros que culminará com um violento espírito invadindo o casamento. Uma interpretação do mito judaico dybbuk, com uma magnífica trilha sonora composta por Krzysztof Penderecki (O Exorcista/O Iluminado). Exibido no Festival de Toronto e premiado como Melhor Horror no Fantastic Fest.”

Demon | Pôster brasileiro

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".