Cinquenta Tons de Cinza | Crítica | Fifty Shades of Grey, 2015, EUA

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Fifty Shades of Grey, 2015

Com Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eloise Mumford, Luke Grimes, Rita Ora, Victor Rasuk, Max Martini, Dylan Neal, Callum Keith Rennie, Jennifer Ehle e Marcia Gay Harden. Roteirizado por Kelly Marcel, baseado na obra de E. L. James. Dirigido por Sam Taylor-Johnson.

2/10 - "tem um Tigre no cinema"Sem dúvidas, Cinquenta Tons de Cinza tem um pouco de novidade no cinema, pelo menos para as massas. Essa aura que envolve a produção vem do grande sucesso e falatório da obra original de E. L. James. E pelo menos no que foi para as telas, a questão tão atraente da pornografia do ponto de vista feminino é mais sugerida do que vista. O que não é, necessariamente, um problema. A verdade é que, no seu cerne, essa é mais uma história como tantos outros romances, com o diferencial de que a protagonista é amarrada aqui e ali, experimentando e compartilhando os prazeres do sexo.

Sinopse oficial

Distribuído pela Universal Pictures, o longa conta com direção de Sam Taylor-Johnson e retrata o relacionamento entre o bilionário de 27 anos Christian Grey, interpretando por Jamie Dornan, e a estudante Anastasia Steele, papel de Dakota Johnson. O filme é um dos lançamentos mais esperados do ano e é baseado no best-seller que já vendeu mais de 100 milhões de cópias, entre versões impressas e e-books, em todo mundo.  

Independente da sua fonte original – lembre-se, essa é uma crítica ao filme, e não ao livro – a narrativa decepciona em vários quesitos. Em primeiro lugar, é clichê. Todos já vimos histórias da personagem que conhecem um homem poderoso e irresistível, mas que tem defeitos. E longe de ser o fetiche de Christian o problema. Ele é um canalha egocêntrico, controlador e superficial que Anastasia tenta desesperadamente mudar. No entanto, é justo apontar que Sam Taylor-Johnson consegue mostrar a extensão dessa personalidade no andar onde fica a sala do personagem. A cor cinza domina, tanto na fotografia (e no clima constantemente chuvoso), quanto nas paredes e nas mulheres que o atendem – e apenas mulheres aparecem – elas também sempre vestidas de cinza.

Em segundo lugar, e muito importante, é o ritmo. Ou melhor, a falta dele. Os 125 minutos do filme se tornam longos e intermináveis, mostrando que a diretora e suas duas montadoras não souberam onde e nem como cortar o filme. Os momentos mais esperados demoram – e como – para acontecer. As cenas de sexo são bem tranquilas, e mesmo com o fetiche do bondage tomando conta, não chega a ser dos mais chocantes (como vimos em Ninfomaníaca). O lado positivo é que mesmo essa pouca exposição vai dar algumas ideias. Porém, a espera pelo prato principal não cria o clima esperado. Ao contrário, vermos Ana e Christian trocando mensagens é uma tentativa de esticar o filme para completar duas horas, apesar de também ser uma vingança da jovem ao seu sedutor. Diferente de uma exploração do desejo, a espera não é benéfica. De que serve a cena em que a mãe de Christian, Grace (Harden), passear pela sala do filho só para ver que ele está acompanhado de Ana? As duas precisavam se encontrar sim, mas o resultado é um dos exemplos que prejudicam o andamento da história.

Além disso, há a falta de carisma da dupla. Ana tem uma beleza peculiar e incomum, e entendem-se os suspiros da sala ao ver Christian sem camisa, mas as palavras que saem da boca dos dois não são críveis. Determinado momento, Christian diz “eu fodo forte” para Ana quando ela pergunta se eles farão amor. Não é uma coisa que saiu naturalmente, assim como a frase solta apenas para colocar o nome do filme no diálogo “eu sou ferrado em cinquenta tons diferentes”. Já a protagonista tem a irritante mania de parar para dar grandes respiros entre frases. A tentativa de dar naturalidade à personagem não funcionou, mostrando que Taylor-Johnson não é uma boa diretora de atores.

Se há algum destaque para o filme, esse fica por conta de como a trilha sonora de Danny Elfman é usada em alguns casos, onde o compositor brinca com o mundo peculiar de Christian. Apesar de muito dos temas terem aquele ar de filme romântico básico – “Ana and Christian”, por exemplo, é o nome de uma das músicas – quando finalmente conhecemos o quarto vermelho, Elfman continua nesse mesmo tom, o que faz um contraste digno de dar voltas no cérebro. Por outro lado, a edição de som passa por problemas ao enfiar músicas famosas – Beyoncé , Annie Lenoxx entre outras – ali no meio, o que bagunça mais uma vez a narrativa.

Cinquenta Tons de Cinza | pôster brasileiro

E devemos nos perguntar qual é o significado de Cinquenta Tons de Cinza. Serve para as mulheres se sentirem bem? Sim, mas faltou mais um pouco de Christian para elas, apesar da pornografia ser equilibrada. Ana é a protagonista? Com certeza. As torturas sexuais também a agradam, e ela o faz por escolha própria – representado pela negação em assinar o contrato. Porém, apesar de tudo isso, ainda é o típico conto de “garoto encontra garoto/garoto perde garota por um motivo estúpido”. Ainda que o paradigma seja quebrado no futuro – com, digamos, Ana se tornando um sadomasoquista incontrolável – a história claramente não se sustenta por mais dois filmes, mostrando que a indústria artística não consegue parar, atendendo tão somente os anseios mercadológicos e financeiros em detrimento da boa arte.

Veja o trailer de Cinquenta Tons de Cinza

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".