Avé, César! | Crítica | Hail, Caesar!, 2016, EUA

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Ave César! é uma comédia engraçadíssima e um passeio pelo cinema, satirizando a época dourada de Hollywood.

Ave, César! (2016)

Com Josh Brolin, George Clooney, Alden Ehrenreich, Ralph Fiennes, Jonah Hill, Scarlett Johansson, Frances McDormand, Tilda Swinton, Channing Tatum e Michael Gambon. Roteirizado e dirigido por Joel Coen e Ethan Coen (O Grande Lebowski).

9/10 - "tem um Tigre no cinema"Quem é mais que um fã de filmes, mas também do Cinema, sairá contente depois de Ave, César! A comédia trata da indústria que faz parte, montando a própria história enquanto acompanha o desenvolvimento de outras histórias fictícias. Retratando uma época onde Hollywood refletia um mundo complicado – a quebra dos estúdios, a suprema corte processando estúdios, a Guerra Fria e o medo da ameaça comunista – os Coen fazem uma homenagem à sétima arte ao mesmo tempo em que tiram sarro do universo que fazem parte e tanto amam. Com um elenco fantástico fazendo pequenos e marcantes papeis, a produção é um deslumbre visual, enquanto encontra espaço para mostrar como a mágica é feita.

É divertido encontrar referências dentro do filme. Isso poderia ser um tanto perigoso nas mãos de diretores menos competentes, pois o risco de se tornar um filme apenas para cinéfilos pairava no ar. Apesar ser um retrato caricato de como Hollywood operava na década de 1950, a produção consegue fazer graça por si só. Enquanto Mannix (Brolin) corre de um lado para o outro resolvendo, como um tipo de policial dos estúdios, as sujeiras e problemas de diretores e elenco, passeamos por essa indústria que tanto amamos, e nos divertimos com os personagens, sem precisar fazer a ligação histórica – mas se você fizer, ou pesquisar, entenderá o filme com mais profundidade.

Em linhas gerais, é fácil entender a metalinguagem – um filme falando sobre filmes – homenageando situações e satirizando outras. O filme estrelado por Baird Whitlock (Clooney) lembra Quo Vadis (Dir Mervyn LeRoy, 1951) assim como tantas outras produções romanas com fundo religioso. Enquanto Mannix se desdobra para resolver todos os problemas que caem no colo dele – naqueles que podem ser os dois últimos dias de trabalho – nos encontramos numa Hollywood preocupada em amenizar os problemas do mundo, com muitos faroestes, filmes aquáticos cheios de coreografias e outros musicais. Notem, inclusive, que quando entramos no mundo daqueles filmes, observando as produções, há um cuidado inclusive de mudar a razão de aspecto.

Ainda no campo mais técnico, existem algumas sacadas fantásticas. Quando estamos vendo um filme sendo produzido como, por exemplo, o drama estrelado pelo limitado Hobie Doyle (Ehrenreich) ouvimos passos e outros sons que não estamos acostumados e que serão tirados enquanto outros serão adicionados na pós-produção. Nesses momentos em que estamos vendo o produto não finalizado, não há trilha sonora. Ela só aparece no, digamos assim, mundo real e nas produções musicais do filme – com a diferença que essas são tocadas ao vivo. E enquanto Mannix investiga o sequestro de Baird, somos apresentados a outros responsáveis por fazer um filme, sendo o mais marcante a montadora C.C. Calhoun (McDormand), fechada no seu universo esfumaçado pelos cigarros.

Os Coen fazem piada também com o próprio momento que Hollywood estava passando por causa da tal ameaça vermelha. O assunto foi abordado com mais seriedade recentemente em Trumbo: Lista Negra (Trumbo, Dir Jay Roach, 2015), e aqui os irmãos resolveram escancarar as portas da grande piada que foi a Lista Negra de Hollywood. Com um narrador (Gambon) em off, ridícula de propósito, os diretores focam exageradamente em símbolos da foice e do martelo e na personalidade dos sequestradores de Baird, um deles tendo um cão chamado Engels. O ridículo fica na imagem interessante, talvez algo que muitos americanos preocupados tinham em mente, do submarino soviético – comandado por um Dolph Lundgren em sombras – que aparece para levar uma das tais ameaças para a Rússia, o que fica mais engraçado quando notamos que os comunistas entram em conflito com a Capitol Studios.

Apesar do elenco cheio de estrelas, o que à primeira vista poderia inchar o filme, eles são mostrados de maneira muito inteligente. Para representar alguns queridinhos da época de ouro de Hollywood – Esther Williams, Gene Kelly, Kirk Douglas e Kirby Grant – os Coen usaram os novos queridinhos da américa. Alguns com papeis de maior destaque, como Clooney e Ehrenreich, e outros com pontas de minutos ou até segundos, como é o caso de Scarlett Johansson, Channing Tatum e Jack Huston (o novo Ben Hur). Há espaço até para um tipo de Carmem Miranda e é divertido ver essas caras enquanto acompanhamos Mannix fazer seu trabalho.

Esse é, sem dúvida, um filme para os amantes de cinema. No entanto, os Coen não esquecem de agradar quem simplesmente procura uma comédia. Porque é engraçado ver como Hobie se mexe de maneira dura quando entra num set de filmagem, olhando para as câmeras, as luzes e não sabendo se expressar direito, o que deixaria qualquer diretor louco, como ficou o pobre Laurence Laurentz (Fiennes) ao tentar tirar o ar chucro do recém contratado do estúdio. Assim como é divertido ver as caras de bocas de um ótimo ator que é Clooney atuar mal dentro do filme. Aliás, a produção deu a oportunidade da maioria dos envolvidos usarem duas caras pelo menos, mostrando a versatilidade deles, seja nesse caso de mundo real versus cinema, ou no caso de Tilda Swinton interpretando gêmeas.

Mesmo que há uma leve derrapada na estrutura do roteiro – exagerando nas suas idas e vindas – existe um primor desde a paleta de cores mais clara, dialogando com aquela época do cinema Hollywoodiano, na montagem que brinca com a presença das repórteres, do figurino que nos remete tanto àquela época, sem deixar de lado na própria estrutura que o filme é erguido, onde esses elementos técnicos e pouco visíveis para a audiência se formam para um filme que fala sobre filmes. Ave, César! é uma carta de amor dos Coen à indústria que não deixa de apontar seus defeitos, que como em qualquer relação, há pontos altos e baixos. Mas no fim, como o próprio Mannix descobre – e como já disse Juan José Campanella em 2009 – pode se mudar de tudo, menos de paixão.

Avé, César! | Trailer

Sinopse oficial

Situada em 1950, Ave, César! acompanha um único dia de um assistente de estúdio que se vê cheio de problemas para solucionar. Quando estão prestes a lançar o maior sucesso de todos os tempos, o grande astro do estúdio é sequestrado. Agora, todos se mobilizam para que o desaparecimento de Baird Whitlock (George Clooney) não vaze na imprensa. A comédia conta com sets elaborados, glamour e muito brilho – características típicas dos anos de ouro do cinema hollywoodiano”.

Ave, César! Pôster brasileiro

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".