A Separação | Crítica | Jodái-e Náder az Simin, 2011, Irã

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A Separação trata de algo tão comum aos ocidentais, o divórcio, para nos mostrar os conflitos do Irã tradicional e do moderno.

A SeparaçãoCom Leila Hatami, Peyman Moaadi, Shahab Hosseini, Sareh Bayat e Sarina Farhadi. Roteiro e Direção de Asghar Farhadi.

Sempre tive dificuldades com o cinema iraniano: pela cultura e principalmente pela língua. E os (poucos) temas que vi anteriormente nunca me chamaram a  atenção para me fazer ir atrás de outros filmes. A Separação não muda essas questões, mas se sai agradavelmente bem ao tratar do tema do divórcio (tão comum para os ocidentais) na cultura patriarcal do Irã. A tradução literal do filme é “A Separação de Náder de Simin”, e todo o filme roda em volta desse fato, passando por momentos tristes, de dúvidas e tragédias. A discussão de até onde a decisão de duas pessoas pode afetar a vida de tantas outras se mistura com o papel do homem e da mulher no Irã moderno. E isso nos traz um história sensível e com vários pontos de vista sobre o que é justo. Uma bela obra, que ganhou o Oscar 2012 de melhor filme estrangeiro.

Conhecemos Náder (Moaadi) e Simin (Leila) já diante de um juiz. Ela quer o divórcio, mas o marido nega, e o juiz lhe dá razão, porque pelas leis iranianas, a separação deve ser de acordo mútuo. Simin tentou convencer Náder a ir para o exterior com a filha, porque acredita que a filha terá uma vida melhor fora do Irã, só para ouvir a pergunta de um juiz sem rosto que indaga “porque acha que ela estaria melhor no exterior?” Essa cena é bem sutil, mas está implícita a visão que o diretor tem sobre o atual regime de Mahmoud Ahmadinejad e dos aiatolás. Ademais, é óbvio o apoio à Náder por ele ser homem. Mas ele também tem um bom motivo para não ir: seu pai sofre de Alzheimer. Simin argumenta logicamente dizendo que o pai nem o reconhece, mas isso não importa para Náder, porque sabe que é seu pai. Uma  discussão razão contra sentimento que faz com que Simin saia de casa, deixando a filha Termeh (Sarina) com o Náder. A partir daí, o diretor Farhadi deixará várias vezes os dois separados nas cenas, praticamente em cômodos diferentes, até mesmo quando estão se falando.

É interessante notar que existem outras separações no filme. Uma delas é a própria doença do pai de Náder, já que a doença está separando o senhor da sua família e da própria realidade. Para cuidar do pai, Náder contrata Razieh (Sareh), uma moradora do subúrbio de Teerã e devota à Alá. O velho senhor requer cuidados como os de uma criança; ele só chama pelo nome de Simin (como se a visse na figura de uma mãe), e faz a mesma pergunta sobre o respirador que a filhinha de Razieh também faz. Nesse ponto, o filme dá pequenos cortes de cenas que sabidamente vão te deixar curioso porque não haver uma montagem lógica das cenas. Note, você deve ter guardado esse pensamento com você. O destino de todos os personagens envolvidos pela separação do casal trará dor, sofrimento e dúvidas. Os personagens tratam de nos guiar pela narrativa na sua própria visão. Razieh em determinado momento some do filme, mas isso só acontece porque a personagem não quer discutir com estranhos o que lhe aconteceu. E a câmera (nós espectadores), somos estranhos para ela.

Então, começamos a ver os personagens em seus extremos, pela tragédia que ocorre com a separação de Razieh, que perde o filho que está esperando por causa da discussão que teve com Náder, porque ela, nesse “sumiço” deixou o pai doente sem cuidados.  Conhecemos Houjat (Hosseini), marido de Razieh que é visto sempre como um homem explosivo e desesperado. Ele é quase a antítese de Náder, mais centrado e menos impulsivo. Mas como mensurar a dor de um homem que perdeu um filho, tem problemas financeiros e se sentiu traído pela mulher, que foi trabalhar na casa de um homem separado (mais uma vez o estado patriarcal islâmico). Houjat também mostra traços de ser um homem perigoso, chegando ao ponto de ameaçar e perseguir Termeh. E apesar de Náder se mostrar mais amoroso e calmo (ele pede em certa altura do filme que Houjat não seja preso) ele é um homem que foge da responsabilidade. No começo do filme ele diz para Simin “Se você quiser ir, vá. Eu não vou impedi-la“; e depois para a filha “Se você quiser que eu assuma a responsabilidade, assumirei” e “Se você quiser que eu volte com a sua mãe, traga-a de volta para casa“. A Separação tem na devoção religiosa uma grande contraponto. Simin e Nardé vivem com mais conforto em Teerã, e não mostram ter alguma espiritualidade. Mas Razieh e Houjat, os mais humildes, se preocupam com isso. E Náder usa disso de uma maneira inesperada em seu favor. Essa é a outra separação do filme, talvez menos importante, mas digna de ser anotada.

Além do roteiro belíssimo, A Separação conta com outros detalhes nos sons (no tribunal, apertado e cheio de falatório), em cenas como quando Simin e Nádir vão encontrar a família de Razieh no hospital (eles tem que descer alguns andares, mostrando um sentimento de culpa ainda não admitido), as movimentações da câmera sempre trêmulas (como se estivéssemos sempre presentes) e a longa e poética cena final, em que os dois estão, finalmente, separados.

A Separação | Trailer

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".