[Especial 36ª #MostraSP] Meu dia #1

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Como não tive acesso à credenciais ou cortesias, tive visitas bem reduzidas aos filmes da 36ª Mostra Internacional de Cinema. Espero que o pouco que escrever seja suficiente para que vocês apreciam minhas visões do evento.

1) Fortaleza (Festung, 2011, Alemanhã) – Com Ursina Lardi, Elisa Essig, Ansgar Göbel e Antonia T. Pankow. Escrito por Nicole Armbruster. Dirigido por Kirsi Marie Liimatainen.

(Meu primeiro filme da Mostra teve um problema técnico. Fomos avisados que a cópia digital do filme  não tinha chegado à Cinemateca de São Paulo, e tivemos que assistir à uma projeção de DVD.)

Numa fria cidade Alemã, reforçada pela fotografia e pelo clima invernal, Johanna é isolada dos colegas da escola e está apaixonada por um deles. Nos seus treze anos, ela se divide entre essa primeira paixão e a relação com sua família. O pai é agressivo, a mãe conivente com a situação, a irmã mais velha está indo embora, e a mais nova está absorvendo e reagindo de acordo com a situação em volta dela. E Johanna cria paredes em volta da situação, levantando uma fortaleza para manter uma aparência de normalidade para o exterior.

Causou-me estranheza Johanna ser excluída do convívio escolar, sendo que ela é muito bonita. Mas estava vendo com olhos brasileiros. A jovem de 13 anos é tão fechada por causa de seus problemas que não consegue ser aceita. Ela desconta os problemas em Mori, a irmã mais nova. Ela não é violenta, mas impaciente. Diferente com a irmã mais velha, Claudia, com quem tem uma relação mais harmoniosa. Mas Johanna é muito influenciável. Enquanto briga com a irmã mais nova por causa dela usar um relógio que pai lhe deu, demonstrando à raiva que tem por ele, a irmã do meio muda de atitude quando o pai volta para casa, depois de um tempo afastado. Dessa vez direcionando a raiva para a Claudia, não admite que ela destrate o pai, mesmo sabendo que o motivo que fez com que ele saísse de casa antes fosse a violência dele com a mãe.

Alguns detalhes dão um ar interessante à produção. O diretor fez questão de filmar no inverno, reforçando o clima melancólico. A mãe de Johanna, assim como Mori e Claudia, é ruiva. Mas pinta o cabelo como o loiro a filha do meio para ter um ar mais jovial e agradar o marido. Planos abertos são usados com competência para aumentar a sensação de solidão dos personagens. Os atores também tem bons momentos de interpretação, principalmente os personagens de  Erika, Johanna e Christian.  Um filme que mostra que às vezes apenas pequenas palavras podem mudar o curso de histórias, e até onde alguém pode chegar para proteger seu próprio lar. (7,5/10)

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2) A Busca (Brasil, 2012) – Com Wagner Moura[bb], Lima Duarte[bb], Mariana Lima[bb] e Brás Antunes. Escrito por Elena Soarez. Dirigido por Lucas Moura.

Anteriormente chamado “A Cadeira do Pai”, Lucas Moura dá ao seu filme um título um tanto genérico que pode ser encaixado em várias propostas. E é isso mesmo que acontece, pois passamos pelo drama de Theo (Moura) e da esposa, Branca (Lima) que está se separando do marido quando o filho Pedro (Antunes) desaparece no dia do seu aniversário, para depois virar um road movie com elementos, digamos, exagerados.

O filme conta com uma história crível do ponto de vista de um pai que fica desesperado pelo sumiço do filho. Juntando informações que começam com uma ligação para saber se o cavalo que Pedro tinha dito que tomaria conta estava bem, é meio surreal o caminho tomado, e você dá umas risadas com o plano mirabolante que o rapaz faz para enganar o dono do haras, que deve ser uma das pessoas mais estúpidas do mundo por ser enganado com uma falsificação de RG tão fajuta.

Vindo de publicidade e de um série de TV (“Filhos do Carnaval”), o diretor transforma o filme com nuances visuais que funcionam bem na tela, graças à ajuda do diretor de fotografia Adrian Teijido. Mas o roteiro é prejudicado pela uma série de fatores. Apesar da da mistura de personagens e regiões mostrarem a variedade de tipos e realidades sociais no estado de São Paulo, é difícil de acreditar em alguns momentos chaves da história. Moura e Soarez jogaram na tela para o espectador uma série de pistas do destino de Pedro (apesar da montagem inicial brincar com isso). E são coisas compartilhadas tanto com Theo como com Branca, e não é verossímil que os personagens demoraram tanto para entender o que estava acontecendo. Por exemplo, quando um morador de uma comunidade humilde diz que viu para o Pedro foi, mas fica duvida entre o estado que ele seguiu, é difícil acreditar que Theo não tenha ligado os pontos. E a série de coincidências que Theo presencia incomoda demais. Na cena em que Theo recebe uma boa notícia, ele sai sem rumo do carro, atravessando à pé uma rodovia até ser atropelado. Ali, quando o filme poderia dar um guinada para criar um arco dramático, o filme usa de um deus ex machina que coloca Theo exatamente onde deveria ir. Outro ponto negativo é a atuação de Brás Antunes, que quando fala não é nada de destaque, mas Moura, como direto,r consegue arrancar alguma coisa do jovem ator quando ele está em silêncio na tela.

Contando com momentos poéticos (como um personagem ser surdo na velhice, ou de um bebê que nasce em um rave, ou o fato de Theo não deixar de usar a aliança de casamento), “A Busca” se sustenta muito na performance de Wagner Moura e da extraordinária presença de cena de Mariana Lima. Mas faltou mais cuidado na história, que não funciona e causa muito estranhamento ao espectador. (5/10)

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About TIAGO

TIAGO LIRA | Criador do site, UX Designer por profissão, cinéfilo por paixão. Seus filmes preferidos são "2001: Uma Odisseia no Espaço", "Era uma Vez no Oeste", "Blade Runner", "O Império Contra-Ataca" e "Solaris".